OS QUATRO ALTARES LEVANTADOS POR ABRAÃO

18/04/2016 17:56

Os 4 altares na história de Abraão

A ilustrativa vida de Abraão como modelo da vida de fé e do crescimento espiritual, pode ser vista por vários ângulos.

Quero enfocar aqui, a marca distintiva dos “altares” em sua jornada e peregrinação espiritual, tanto do crescimento de sua visão de Deus, quanto do crescimento e formação do “caráter de Cristo” em seu homem interior.

Nosso crescimento espiritual é descrito na Palavra de Deus, como um processo lento e contínuo de apropriação do caráter moral de Deus: o caráter de Cristo. O Salmo 84:7 diz: “Vão indo de força em força...”; Rm 1:17 diz: “...de fé em fé...”; II Co 3:18 diz:”...somos transformados de glória em glória...”; Jo 1:16 diz: “Porque todos nós temos recebido ... graça sobre graça.”

Um altar é um símbolo nas escrituras de adoração e consagração. Não edificamos um altar para nós mesmos, mas para adorar a Deus, oferecer sacrifícios a Ele e invocar o seu nome. O altar é símbolo de uma vida espiritual, uma vida com Deus. Abraão foi chamado “amigo de Deus” ( Is 41:8 ), e, essa comunhão, marcada pela vida de altar, revela a essência do que é a verdadeira vida espiritual, ou seja, ela não consiste na medida de nosso conhecimento e instrução acerca das coisas de Deus, mas no quanto somos “amigos de Deus”, no quanto andamos com Deus, no quanto Deus tem-nos como seus amigos !

Abraão, já em sua maturidade de vida, disse: “O Senhor, em cuja presença eu ando...”( Gn 24:40 ), expressando assim, a qualidade e a própria essência de toda a vida espiritual.

Freqüentemente, nós desejamos que Deus ande conosco e que Deus abençoe nossos caminhos, mas a marca da consagração é andar com Deus em seus caminhos ! Quanto de verdadeiro quebrantamento, quanto do trabalho da cruz arando sobre nossas almas, quanto de disciplina espiritual necessitamos para andar com Deus!

Sabemos que, o altar no Velho Testamento é uma figura da cruz no Novo Testamento, onde o verdadeiro cordeiro pascal foi imolado. O nosso Senhor Jesus Cristo e a cruz são inseparáveis. Sem a cruz Cristo não é Cristo, Ele não pode salvar-nos. A cruz, mais do que um simples objeto de tortura para alguns, ou um simples objeto de adorno para outros, define a própria natureza de Cristo ! E quanto a nós ? Um cristianismo sem cruz não é cristianismo de forma alguma, mas uma pobre imitação da doutrina de Cristo. Uma vida cristã sem cruz não é vida cristã de forma alguma, mas apenas um “ego” adornado com os ensinos de Cristo! Nós necessitamos da cruz tratando profundamente conosco, para que possamos ser homens e mulheres espirituais, vivendo vidas espirituais e andando com Deus.

Durante a vida de fé de Abraão nós constatamos a edificação de 4 altares, erguidos no processo de sua jornada interior de conhecimento de Deus e amizade com Ele. Cada um destes altares aponta para um aspecto do trabalho da cruz em nossas almas, ampliando nossa consagração, ou seja, o nosso relacionamento com Deus e nossa verdadeira espiritualidade.

1º altar

O 1º altar foi edificado em Siquém ( Gn 12:6-7) , e podemos chamá-lo de altar da revelação. Deus revelou-se ali a Abraão: “Apareceu o Senhor a Abraão”. Precisamos saber que a cruz e a revelação andam juntas. Na medida em que a cruz trata conosco, é que teremos genuína revelação 1º de quem Deus é, 2º de quem nós somos, 3º do que a igreja é e, 4º do que o mundo é. Carecemos da visão real destas 4 coisas para que vivamos uma vida que seja verdadeiramente espiritual !

Por causa da cruz o apóstolo João sabia quem Deus era: 1º “Deus é Amor”, e, “Deus é luz”( I Jo 4:8 e 1:5). Por causa da cruz, ele sabia quem ele próprio era: 2º “...seu servo ( escravo ) João” ( Ap 1:1 ), e, “Eu, João, irmão vosso e companheiro na tribulação, no reino e na perseverança “( Ap1:9 ) Pela cruz, ele sabia o que era a igreja: 3º “Vem, mostrar-te-ei a noiva, a esposa do cordeiro”. Pela cruz, ele sabia o que era o mundo: 4º  “Não ameis o mundo”. Por outro lado, toda genuína revelação de Deus a nós implicará em cruz, ou seja, requererá que depositemos nossos corpos como sacrifício, no altar de Deus, para que aquilo que de Deus foi revelado a nós, seja “formado”em nós, e não fique apenas em nosso intelecto como informação a respeito de Deus. Este oferecer do nosso ser ao Senhor, diariamente, a fim de que o trabalho da cruz possa reduzir-nos a cada vez mais, fazendo Cristo aumentar em nós, isto é consagração.

Lembremo-nos ainda que, embora seja a regeneração, o nascer de novo, que marca o início de nossa vida cristã, é a consagração que marca o início do nosso crescimento até a maturidade cristã !

2º altar

2º altar na história de Abraão foi edificado entre Ai e Betel ( Gn 12:8 ), e podemos chamá-lo de altar da separação. Abraão deixou Ai para trás e tinha Betel diante dele. Ai significa, literalmente, " monte de ruínas" e Betel significa “Casa de Deus”. Aqui podemos dizer que é a vida de altar, a consagração, que permite que a cruz nos separe do mundo, do amor ao mundo, de “tudo o que há no mundo” (cobiças, concupiscências e soberba). A cruz coloca o mundo para trás de nós e mantém viva e clara diante de nós a visão da Casa de Deus ( Betel ) ! E não somente a visão de Betel, mas a cruz operando em nós habilita-nos a participar de Betel,  “sermos edificados casa espiritual, para sermos sacerdócio santo...” ( I Pe 2:5 ):

A cruz introduz-nos na igreja. Cristo passou pela cruz e a igreja surgiu, nós também precisamos “passar pela cruz” para que a igreja, em sua realidade prática e viva, possa surgir. Só a cruz pode separar-nos do mundo e introduzir-nos na Casa de Deus. Diante de Deus, por causa da obra da cruz de Cristo no calvário; nós já somos a Casa de Deus, a igreja, o corpo de remidos. Mas, o lado subjetivo desta verdade, ou seja, refletir em nosso viver, conduta e relacionamentos o fato espiritual de sermos Casa de Deus, depende do trabalho da cruz em nossas vidas.

Note que após este 2º altar, Abraão desce ao Egito “para aí ficar” ( Gn 12:10 ), contrariamente à vontade de Deus. Como acontece conosco, também Abraão tinha já alguma experiência do altar, mas tinha também seu “homem natural” não profundamente tratado pelo Senhor. As suas escolhas, maneiras, idéias e caminhos eram ainda bem independentes de Deus.

O Senhor tratou com ele, misericordiosamente, como vemos em Gn 12:10 – 20, e o trouxe de volta. Ele “fez as suas jornadas do Neguebe até Betel, até ao lugar onde primeiro estivera a sua tenda, entre Betel e Ai; até ao lugar do altar, que outrora tinha feito...”. Abraão voltou ao mesmo ponto de onde se desviou! Deus não pula etapas em nosso discipulado. O trabalho da cruz em nós tem 2 lados: o negativo e o positivo. Do lado negativo, “despe-nos do velho homem”; do lado positivo, reveste-nos do novo homem”. Mas atente para este fato: Quando Deus trata com as coisas negativas de nossa vida diante d’Ele, este tratar não é a essência da santificação, pois esta é essencialmente positiva ! Deus reconduz-nos do ponto de onde nos desviamos d’Ele para, a partir dali, com a vida de altar restaurada, andarmos novamente com Ele e assim prosseguirmos compartilhando do Seu caráter em amizade com Ele. Ainda acrescentamos que, este tratar de Deus conosco em uma área específica de nossa vida ( como esta da escolha de Abraão de ir ao Egito ), é um tratar progressivo e cada vez mais profundo,pois, veja que anos depois, Abraão novamente escolhe erradamente um caminho natural, uma maneira e idéia naturais, para ajudar a Deus a gerar Isaque, e gera Ismael !

3º altar

O 3º altar erguido por Abraão, foi levantado logo após a sua separação de Ló ( Gn 13:14–18 ).

Aqui temos mais um degrau na vida consagrada de Abraão. Este faz a escolha, mas por causa da contenda entre seus pastores e os de Ló, ele pede a Ló que se aparte dele escolhendo seu próprio caminho. Ló faz uma escolha de alguém que realmente não conhecia o altar! Ele escolhe “a campina do Jordão”, uma terra boa para sua prosperidade econômica, e vai armando suas tendas até Sodoma, um lugar de julgamento, figura do mundo !

Podemos chamar este 3º altar de altar da comunhão. Ele foi edificado em Hebrom que significa “comunhão, união”. A cruz habilita-nos a ter aquela incessante comunhão com Deus, aquela amizade com Deus, aquela vida de união com Deus ! Como já disse Madame Guyon: “O Senhor se coloca no exato lugar daquilo que Ele põe à morte em nossas vidas”.

Já compreendemos isso diante do Senhor ? Ele substitui para adicionar e Ele divide para multiplicar. Quem conhece o Seu coração pode confiar em suas mãos !

4º altar

O 4º altar na vida de Abraão foi erguido no Monte Moriá. Podemos chamá-lo de altar da adoração ( Gn 22:1-14). Este altar reflete a vida madura de Abraão, o quanto ele já tinha aprendido diante do Senhor. É de aceitação geral entre os estudiosos de tipologia, que aqui Abraão até mesmo tipifica Deus, o Pai eterno. O que vemos aqui é um homem absolutamente rendido a Deus, a ponto de sacrificar seu único e amado filho, um homem que amava a Deus a ponto de confiar em Seus caminhos, um homem tão sensível à voz de Deus que pôde discernir cada instrução de Deus em cada passo do doloroso processo de sacrifício, um homem que adorou no momento em que oferecia o que tinha de mais precioso ! Só a cruz nos torna verdadeiros adoradores do Pai.

Sem as marcas da cruz em nossas vidas nós adoramos a nós mesmos, nós consideramos nossas vidas e tudo que temos por demais preciosos para serem oferecidos a Deus.

Na verdade, neste altar, Deus coloca aquela parte mais íntima e preciosa de Abraão, o próprio coração de Abraão: Isaque. Deus assim tratou com o ser mais interior de Abraão, e tornou-o um adorador. Que nosso querido e fiel salvador faça o mesmo conosco, pela sua misericórdia e

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